Em consonância com o Ministério da Saúde (2017), entendemos que as demandas de pacientes, famílias, comunidades e populações sobre o sistema de saúde são mais complexas o que, consequentemente, exige dos(as) profissionais de saúde uma prática que seja colaborativa. Nesta perspectiva, é preciso que a formação em saúde capacite para uma prática que assuma a forma de trabalho interprofissional, engajando usuários(as) provedores de saúde de diferentes áreas (quiçá setores) que atuam interdependentemente, integrados(as), com explicitação dos papéis, compartilhando a identidade de equipe, objetivos, valores e responsabilidades para atender as necessidades de saúde das pessoas, famílias, comunidades, bem como populações socialmente vulneráveis usuárias dos serviços do SUS.

O desafio que se apresenta para nós docentes é o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe interprofissional na graduação da área da saúde.

Para o momento, a solução que estamos implementando é a Oficina Interprofissional de Saúde enquanto a interprofissionalidade não é institucionalizada nos currículos da área. No dia 04/05/2023, aconteceu o primeiro dia da Oficina com 23 equipes e uma percepção de participar de uma experiência inovadora com potencial de gerar melhores resultados de saúde para a pessoa usuária do SUS (Cruz, 2023).

No dia 11/05, aconteceu o segundo dia da Oficina. Na primeira etapa, as equipes apresentaram o produto de seu trabalho em uma Sessão Poster.

Com base no socioconstrutivismo, a divulgação para a comunidade da Sessão Pôster

A Sessão Pôster foi bem avaliada por estudantes e docentes por facilitar a apresentação simultânea de muitas equipes em um curto espaço de tempo, propiciando o compartilhamento do conhecimento produzido para um público externo igualmente.

Os trabalhos apresentados pelas equipes na Sessão Poster permitiu avaliar o grau de alcance dos objetivos de aprendizagem da Oficina, a saber: ” entender a contribuição de uma gama de diferentes profissões de saúde no atendimento das complexas necessidades do(a) paciente, assim como integrar e priorizar as principais contribuições das diferentes profissões de saúde em um plano de terapêutico do(a)paciente “.

Quanto à produção e apresentação do plano em Sessão Poster, de 109 estudantes que se inscreveram na sala virtual, a autoavaliação de 72 discentes foi esta:

Autoavaliação quanto ao trabalho em equipe para a produção do poster

Após a Sessão Poster, estudantes e docentes se reunirão para a avaliação da atividade (debriefing). Nesta etapa final, destaco o que a representante de uma equipe relatou sobre o uso de videoconferência entre o dia 4 e 11 para resolução do desafio, avaliando que a experiência foi boa, mas poderia ser melhor se houvesse espaço na grade de aulas para um encontro presencial. Julgo isso relevante porque dentre os objetivos de aprendizagem era “aplicar uma abordagem colaborativa, com as diferentes profissões da saúde, para resolução criativa de um desafio”.

Autoavaliação sobre a contribuição pessoal na equipe

O gráfico na figura acima sobre a autoavaliação da contribuição pessoa ao desafio apresentado à equipe interprofissional, no meu julgamento, mostra que a maioria engajou-se na resolução do desafio e compartilhou a percepção de protagonismo na sua resolução. Uma grande parcela avaliou-se como colaboradora ativa da equipe para resolução do desafio. Para uma Oficina de 2 dias, mais exatamente, umas 4 horas/aula, estas avaliações são encorajadoras para a equipe docente investir na institucionalização da atividade ao menos em suas respectivas disciplinas. Contudo, cabe observar a parcela que participou de forma estrita no sentido de investigar o quê exatamente impediu o engajamento na proposta.

Como parte da autoavaliação da atividade, no que se refere à valorização do trabalho dos(as) colegas, a síntese das resposta está na figura a seguir.

Autoavaliação sobre o reconhecimento da contribuição de colegas de equipe

Dos(as) estudantes que responderam, a maioria informa estar disponível por meio da escuta ativa e desenvolvimento das ideias compartilhadas, assim como na busca do consenso dentro da equipe. O que dizer: – um bom começo! Uma parcela importante informa sobre seu esforço consciente para ouvir e ajudar a equipe.

Estas informações prestadas no processo de autoavaliação, no meu entender, ressalta a necessidade de novas experiências de trabalho interprofissional para consolidar ou desenvolver a competência do trabalho em equipe de saúde ao longo da graduação, nos mais diversos campos e cenários de prática.

Diante do exposto, de modo geral, considero que a avaliação da atividade Oficina Interprofissional de Saúde foi positiva tanto por estudantes quanto docentes. O reconhecimento de que a institucionalização da interprofissionalidade nos cursos e campos de prática é nosso maior desafio foi igualmente compartilhado por todos e todas.

Finalização da Oficina Interprofissional de Saúde 1/2023 (Foto: Profa. Dra. Mônica de Rezende)

Na sala virtual da Oficina, foram registradas respostas à pergunta “O que na Oficina Interprofissional foi mais benéfico para seu aprendizado?” De algumas respostas (foram 50/109), criei a seguinte wordcloud:

nuvem de palavras sobre o que na Oficina Interprofissional foi mais benéfico para o aprendizado

Destaco algumas respostas à pergunta – O que na Oficina Interprofissional foi mais benéfico para seu aprendizado?

Para mim, o mais legal e benéfico da oficina Interprofissional, é a experiência de como será trabalhar em equipe, tentar solucionar um caso com outros colegas de profissão e saber que em breve isso será de verdade, isso tudo é muito legal!!! Sem dúvidas isso deveria conhecer mais vezes e até em outras matérias!!!!

Com a Oficina tive a oportunidade de trabalhar pela primeira vez com alunos de outros cursos, futuros profissionais da saúde e ter um primeiro contato em como trabalhar com uma equipe inter profissional, fato que ajudou para melhorar minhas habilidades de trabalho em equipe.

Com a oficina interprofissional pude aprender e entender, de forma mais ativa e eficiente, como ocorre a cooperação entre diversas áreas profissionais para a resolução de um único caso de saúde. Compreendi a devida importância de ouvir e aprender com os profissionais das outras áreas, outras especialidades, e a necessidade de um atendimento humanizado e totalmente centrado no paciente, em sua realidade, necessidade e individualidade.

Acredito que poder interagir com outros cursos e outras pessoas para fora da minha sala foi uma experiência incrível. O meu grupo teve uma troca mt especial, mantivemos a nossa interação no wpp msm após o término do evento para possíveis encontros. Espero encontrar profissionais tão bons no atendimento aos pacientes quanto os discentes que pude conhecer do meu grupo. Agradeço pela experiência!

A parte mais benéfica para o meu aprendizado foi entender que o trabalho em equipe é essencial para o tratamento adequado de um caso, visto que há uma complexidade e o envolvimento de vários aspectos interligados, como a área psicológica, nutricional, médica, de saúde bucal e de enfermagem relacionados ao problema de saúde de uma pessoa ou de uma família. Dessa forma, é necessária a comunicação entre essas diversas áreas profissionais para oferecer o auxílio e o tratamento adequado ao paciente.

A leitura das respostas mostrou, no meu julgamento, que a pessoa usuária do sistema de saúde (paciente) foi entendida pelos(as) estudantes como o foco do trabalho interprofissional de saúde. Isto posto, concluo que a Oficina Interprofissional de Saúde cumpriu seu propósito.

Mensagem chave:

Equipe interprofissional de saúde com foco na pessoa, família e população para um Sistema Único de Saúde melhor.

Agradecimento muito especial à equipe interprofissional de docentes:

Andrea Neiva ( Instituto de Saúde Coletiva[ISC]/Odontologia); Camilla Carvalho (Nutrição); Eduardo Torres (ISC/Medicina); Eliana Gabbay (ISC/ Medicina); Isabel Cruz (Enfermagem); Kátia Aires (Nutrição); Luiz Montenegro (ISC/Medicina); Manuelle Matias (ISC/Medicina); Marilene Nascimento (ISC/Medicina); Michelle Teixeira (ISC//Odontologia); Moema Motta (ISC/Medicina); Mônica de Rezende (ISC/Medicina), parceira desde a primeira hora; Paula Land (Psicologia); Sonia Leitão (ISC/Medicina).  

Referências e bibliografia de interesse:

Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Relatório final da oficina de alinhamento conceitual sobre educação e trabalho interprofissional em saúde. Brasília – DF, 2017. Disponível em https://www.observatoriorh.org/es/relatorio-final-da-oficina-de-alinhamento-conceitual-sobre-educacao-e-trabalho-interprofissional-em

Cruz, Isabel. Oficina Interprofissional de Saúde: desenvolvendo uma experiência de prática clínica (parte 1). NEPAE/UFF. Niterói, 07/05/2023. Disponível em https://nepae.uff.br/?p=2620

Como citar:

Cruz, Isabel. Oficina Interprofissional de Saúde: desenvolvendo uma experiência de prática clínica (parte 2). NEPAE/UFF. Niterói, 13/05/2023. Disponível em https://nepae.uff.br/?p=2662

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