Será que o quesito cor é considerado uma informação estratégica em saúde, visando o alcance do ODS 3 – Saúde e Bem-Estar e para a sociedade em geral? Ou seja, quesito cor apenas um dado, quando muito uma informação ou é uma categoria de produção do conhecimento antirracista? (1)

A saga sobre a inclusão do quesito cor nos principais sistemas de informação é longa (2). A qualidade da coleta deste dado tem sido foco de muitos estudos sobre a vigilância em saúde da população negra, em especial. Mas, como este dado é analisado a apresentado nos boletins epidemiológicos e estudos da área da saúde de modo a produzir informações robustas para a tomada de decisão sobre a implementação das políticas públicas de equidade e enfrentamento do racismo institucional?

Para responder a estas perguntas, realizei um estudo bibliográfico utilizando como base de dados a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Na busca dos textos e artigos científicos foi usado apenas o operador booleano de busca “and”, com os seguintes termos e período de tempo: (vigilância em saúde pública ) AND (população negra ) AND (year_cluster:[2013 TO 2023]).

Foram identificados 374 estudos e, com a aplicação de filtros como idioma (português) e tempo (2013-23), entre outros, a lista ficou reduzida a 8 textos, sendo selecionados 5 trabalhos publicados relacionados ao tema. Estes 5 trabalhos estão referenciados neste estudo.

A revisão da literatura mostrou que a análise a apresentação dos dados sobre o quesito não segue a metodologia consagrada pelo IBGE em seus censos, a saber: a desagregação das categorias branco, preto, pardo, amarelo e indígena (3,4,5,6,7). A população negra é o somatório das pessoas autodeclaradas pretas e pardas. Mas quando estes dados não são apresentados e a informação é passada apenas como “população negra” acontece o possível mascaramento de diferenças e iniqüidades entre esta população e o grupo hegemônico, em razão da “média aritmética” que acontece quando se faz a junção dos dados de pretos e pardos.

Isto posto, fica como mensagem chave que para a desconstrução do racismo institucional no SUS é preciso informação estratégica obtida a partir da análise do quesito cor, conforme a metodologia consagrada pelo IBGE, ou seja,com a desagregação dos dados tanto na análise quanto na apresentação dos mesmos nos relatórios e dashboards, explicitando as 5 categorias: branco, preto pardo, amarelo e indígena.

Referências

  1. Cruz, ICF da O quesito raça-cor: informação ou categoria de produção do conhecimento antirracista? GT Mulheres na Ciência UFF, Niterói, 27 nov, 2020. Disponível em https://youtu.be/vtVQaoTdxOI
  2. Cruz, Isabel CF da. Anotações sobre como os profissionais de saúde podem desconstruir o racismo institucional dirigido à população negra no SUS. Boletim NEPAE-NESEN, [S.l.], v. 13, n. 2, oct. 2016. ISSN 1676-4893. Disponível em: <http://www.jsncare.uff.br/index.php/bnn/article/view/2867/709>. Acesso em: 16 june 2023.
  3.  Silva TO, Vianna PJ de S, Almeida MVG, Santos SD dos, Nery JS. População em situação de rua no Brasil: estudo descritivo sobre o perfil sociodemográfico e da morbidade por tuberculose, 2014-2019. Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2021;30(1):e2020566. Available from: https://doi.org/10.1590/S1679-49742021000100029
  4.      São Paulo (SP). Secretaria Municipal da Saúde. Coordenação de Epidemiologia e Informação – CEInfo. Raça/cor: Olhar da Saúde da População Negra. Boletim CEInfo Análise| Ano XV, nº 18, 2020. Julho. CEInfo, 2020, 59 p. Disponível em https://docs.bvsalud.org/biblioref/2023/05/1433828/boletim_ceinfo_analise_18.pdf
  5.     Santos DMS, Prado BS, Oliveira CC da C, Almeida-Santos MA. Prevalence of Systemic Arterial Hypertension in Quilombola Communities, State of Sergipe, Brazil. Arq Bras Cardiol [Internet]. 2019Sep;113(3):383–90. Available from: https://doi.org/10.5935/abc.20190143
  6.      Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018 População Negra -vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico : estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2018_populacao_negra.pdf
  7.      Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Política nacional de saúde integral da população negra- PNSIPN. Brasília; Ministério da Saúde; jan., 2015. Foldercolor., 2 dobras. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/politica_nacional_saude_integral_populacao_negra.pdf

Como citar:

Cruz, ICF da Breve panorama sobre a vigilância em saúde da população negra. NEPAE/UFF. Niterói, 16/06/2023. Disponível em https://nepae.uff.br/?p=3039

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