Segundo o MS, Saúde Digital compreende o uso de recursos de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) para produzir e disponibilizar informações confiáveis sobre o estado de saúde para quem precisa, no momento em que precisa.
Contudo, além do racismo institucional enquanto um determinante social da saúde (DSS) enfrentado pelo Programa Municipal de Saúde Integral da População Negra-PMSIPN, na cidade do Rio, com a transformação digital da saúde surge um novo desafio, a saber: a “cisão digital” (digital divide). Entende-se como cisão digital a distância entre as pessoas que têm acesso às tecnologias e à cultura digital, bem como habilidades para usufruí-las e aquelas pessoas que não têm.
A implementação do PMSIPN antecipa a cisão digital em sinergismo com o racismo institucional com potencial para intensificar as disparidades e comprometer a adoção do portal do(a) paciente, bem como o uso de suas funcionalidades, entre outros aplicativos já disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), tal como a teleconsulta.
No sentido de garantir o acesso e o uso do SUS, o Comitê Técnico em Saúde da População Negra – SMS-RJ ofereceu a Oficina Saúde (Digital) da População Negra, uma atividade do Laboratóri 💡 de Inovação em Saúde da População Negra.
Como as tecnologias de informação e digitalização já fazem parte do cotidiano das pessoas, o Programa Municipal de Saúde Integral da População Negra (PMSIPN-RJ) pode ter sua implementação beneficiada pela estratégia de e-Saúde. Por exemplo, a coleta do quesito cor.
Uma das funcionalidades presentes em saúde digital é o autopreenchimento do quesito cor no Portal do(a) Paciente. Cabe observar que esta funcionalidade tem relação direta com um princípio básico que é a autonomia da pessoa e que busca ser reiterado no uso das TICDs. Com a transformação digital da saúde, o auto-preenchimento do quesito cor tem o potencial de qualificar os dados de monitoramento do PMSIPN.
Todavia, nem sempre princípios e direitos estão automaticamente garantidos e preservados. Para tanto, precisamos enfrentar os desafios que surgem com as tecnologias digitais disruptivas (Inteligência Artificial, impressão 3D, Aprendizado de Máquina, dispositivos vestíveis de monitoramento remoto, etc) quanto ao modelo “tradicional” de prestação do cuidado de saúde (profissional “expert”) em relação ao modelo centrado na pessoa com o(a) e-Paciente (empoderado[a], engajado[a], equipado[a], perito[a]).
Neste sentido, o aplicativo de saúde para a ser o principal recurso da pessoa tanto para acessar o SUS quanto para avaliar a qualidade do acesso e do uso.
O PMSIPN entende que a transformação digital da saúde é um recurso para incentivar e capacitar o(a) paciente a participação ativa no encontro clínico e na gestão de seu problema de saúde.
Mudar paradigma não é rápido nem fácil. Por conta de uma tradição em resistir a padrões ouro de cuidado de saúde, no que se refere à transformação digital há o risco de tornar a saúde “eletrônica” apenas, evitando o uso das tecnologias digitais no que elas oferecem de recursos para avaliação de processos (big data), para a identificação de iniquidades (análise preditiva) e para correção de percursos clínicos (machine learning e inteligência artificial). Assim sendo, num contexto de “saúde digitalizada”, o prontuário eletrônico do(a) paciente em vez de ser o repositório do encontro clínico da pessoa negra com o(a) profissional de saúde continuará sendo um “prontuário (do[a]) médico(a)” funcionando como uma planilha de dados puramente contábeis que interessa apenas à gestão desconectada.
Para que a transformação digital ajude o PMSIPN a garantir um padrão outro de cuidado de saúde, o objetivo da Oficina é desenvolver competências clínicas estruturais de saúde digital centrada na pessoa negra e sua diversidade, visando o enfrentamento do racismo institucional, misogynoir, etc, que podem afetar a adoção de tecnologias digitais para qualificação do acesso ao SUS.
O Laboratório de Inovação em Saúde da População Negra (LISPN) convidou para a capacitação os especialistas na área são:
Rui Teixeira, Saúde Digital e Inovação do Ministério da Saúde, e
Thiago Wendel, Coordenador Geral de Atenção Primária do Município do Rio de Janeiro
Isabel Cruz, especialista em Informática na Saúde, organizadora e coordenadora da Oficina.
O público alvo da Oficina são são docentes, gestores(as), profissionais de saúde, bem como o controle social de política e programa em saúde da população negra. A seguir, o perfil dos(as) inscritos(as) e demais informações de interesse para esta área de conhecimento:
Enfim, seja na Atenção Básica, seja na Atenção Especializada, as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs) demandam novas competências para profissionais, gestores(as) e controle social da saúde. Igualmente, para obter melhores resultados terapêuticos, as TDICs exigem mudanças que propiciem o processo de trabalho interprofissional centrado na pessoa e sua diversidade. Padrão ouro de cuidado, padrão do PMSIPN.
O material das apresentações mais outros de interesse ao tema estão neste drive: https://drive.google.com/drive/folders/1nOShBZHS8TQ_7a33RpfkDswIMg7TOwyX?usp=sharing
Vamos avançando na transformação digital de saúde da população negra!!!
Referências
CRUZ, Isabel CF da. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra –PNSIPN na Atenção Primária à Saúde (Digital): promovendo a equidade no ponto do cuidado. Boletim NEPAE-NESEN, [S.l.], v. 18, n. 1, may 2021. ISSN 1676-4893. Disponível em: <http://www.jsncare.uff.br/index.php/bnn/article/view/3427/905>. Acesso em: 03 nov. 2024.
Cruz, ICF da Laboratório de Inovação: saúde (digital) da população negra. NEPAE/UFF. Niterói, 03/11/2024. Disponível em https://nepae.uff.br/?p=1570
Cruz, Isabel Informática & Saúde Digital de Alta Complexidade. NEPAE/UFF. Niterói, 26/03/2023. Disponível em https://nepae.uff.br/?p=2604
Cruz, Isabel (coord.). Poderosa no Parto: demonstração do protótipo de aplicativo para o pré-natal. In: Agenda Acadêmica. Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2021. Encontro sobre Saúde Digital. Disponível em https://youtu.be/Um4IaI9fnAU?si=YwNHvmRtB2xSa-8A
Como citar:
Cruz, ICF da Laboratório de Inovação: saúde (digital) da população negra. NEPAE/UFF. Niterói, 06/11/2024. Disponível em https://nepae.uff.br/?p=1570